As r a ç a s a d â m i c a s
O SISTEMA DE CAPELA
Nos mapas zodiacais, que os astrônomos terrestres compulsam em
seus estudos, observa-se desenhada uma grande estrela na Constelação
do Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela. Magnífico
sol entre os astros que nos são mais vizinhos, ela, na sua trajetória pelo
Infinito, faz-se acompanhar, igualmente, da sua família de mundos,
cantando as glórias divinas do Ilimitado. A sua luz gasta cerca de 42 anos
para chegar à face da Terra, considerando-se, desse modo, a regular
distância existente entre a Capela e o nosso planeta, já que a luz percorre
o espaço com a
velocidade aproximada de 300.000 quilômetros por segundo.
Quase todos os mundos que lhe são dependentes já se purificaram
física e moralmente, examinadas as condições de atraso moral da Terra,
onde o homem se reconforta com as vísceras dos seus irmãos inferiores,
como nas eras pré-históricas de sua existência, marcham uns contra os
outros ao som de hinos guerreiros, desconhecendo os mais comezinhos
princípios de fraternidade e pouco realizando em favor da extinção do
egoísmo, da vaidade, do seu infeliz orgulho.
UM MUNDO EM TRANSIÇÕES
Há muitos milênios, um dos orbes da Capela, que guarda muitas
afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus
extraordinários ciclos evolutivos.
As lutas finais de um longo aperfeiçoamento estavam delineadas,
como ora acontece convosco, relativamente às transições esperadas no
século XX, neste crepúsculo de civilização.
Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da
evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas
daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de
saneamento geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à
concórdia perpétua, para a edificação dos seus elevados trabalhos
As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos,
deliberam, então, localizar
aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra
longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do
seu ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionando,
simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores.
ESPÍRITOS EXILADOS NA TERRA
Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de
justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes.
Com a sua palavra sábia e compassiva, exortou essas almas
desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos deveres
de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas.
Mostrou-lhes os campos imensos de luta que se desdobravam na Terra,
envolvendo-as no halo bendito da sua misericórdia e da sua caridade sem
limites. Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os
sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração
cotidiana e a sua vinda no porvir.
Aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo
um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na
prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre;
andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura;
reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o
paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos não veriam
a suave luz da Capela, mas
trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa
misericórdia.
FIXAÇÃO DOS CARACTERES RACIAIS
Com o auxílio desses Espíritos degredados, naquelas eras
remotíssimas, as falanges do Cristo operavam ainda as últimas
experiências sobre os fluidos renovadores da vida, aperfeiçoando os
caracteres biológicos das raças humanas. A Natureza ainda era, para os
trabalhadores da espiritualidade, um campo vasto de experiências
infinitas; tanto assim que, se as observações do mendelismo fossem
transferidas àqueles milênios distantes, não se encontraria nenhuma
equação definitiva nos seus estudos de biologia. A moderna genética não
poderia fixar, como hoje, as expressões dos "genes", porquanto, no
laboratório das forças invisíveis, as células ainda sofriam longos
processos de acrisolamento, imprimindo-se-lhes elementos de astralidade,
consolidando-se-lhes as expressões definitivas, com vistas às
organizações do porvir.
Se a gênese do planeta se processara com a cooperação dos
milênios, a gênese das raças humanas requeria a contribuição do tempo,
até que se abandonasse a penosa e longa tarefa da sua fixação.
ORIGEM DAS RAÇAS BRANCAS
Aquelas almas aflitas e atormentadas reencarnaram,
proporcionalmente, nas regiões mais importantes, onde se haviam
localizado as tribos e famílias primitivas, descendentes dos "primatas", a que nos
referimos ainda há pouco. Com a sua reencarnação no mundo terreno,
estabeleciam-se fatores definitivos na história etnológica dos seres.
Um grande acontecimento se verificara no planeta
É que, com essas entidades, nasceram no orbe os ascendentes das
raças brancas.
Em sua maioria, estabeleceram-se na Ásia, de onde atravessaram o
istmo de Suez para a África, na região do Egito, encaminhando-se
igualmente para a longínqua Atlântida, de que várias regiões da América
guardam assinalados vestígios.
Não obstante as lições recebidas da palavra sábia e mansa do
Cristo, os homens brancos olvidaram os seus sagrados compromissos.
Grande percentagem daqueles Espíritos rebeldes, com muitas
exceções, só puderam voltar ao país da luz e da verdade depois de muitos
séculos de sofrimentos expiatórios; outros, porém, infelizes e retrógrados,
permanecem ainda na Terra, nos dias que correm, contrariando a regra
geral, em virtude do seu elevado passivo de débitos clamorosos.
QUATRO GRANDES POVOS
As raças adâmicas guardavam vaga lembrança da sua situação
pregressa, tecendo o hino sagrado das reminiscências.
As tradições do paraíso perdido passaram de gerações a gerações,
até que ficassem arquivadas nas páginas da Bíblia.
Aqueles seres decaídos e degradados, a maneira de suas vidas
passadas no mundo distante da Capela, com o transcurso dos anos
reuniram-se em quatro grandes grupos que se fixaram depois nos povos
mais antigos, obedecendo às afinidades sentimentais e lingüísticas que os
associavam na constelação do Cocheiro. Unidos, novamente, na esteira do
Tempo, formaram desse modo o grupo dos árias, a civilização do Egito, o
povo de Israel e as castas da Índia.
Dos árias descende a maioria dos povos brancos da família indoeuropéia nessa descendência, porém, é necessário incluir os latinos, os
celtas e os gregos, além dos germanos e dos eslavos.
As quatro grandes massas de degredados formaram os pródromos
de toda a organização das civilizações futuras, introduzindo os mais largos
benefícios no seio da raça amarela e da raça negra, que já existiam.
É de grande interesse o estudo de sua movimentação no curso da
História. Através dessa análise, é possível examinarem-se os defeitos e
virtudes que trouxeram do seu paraíso longínquo, bem como os
antagonismos e idiossincrasias peculiares a cada qual.
AS PROMESSAS DO CRISTO
Tendo ouvido a palavra do Divino Mestre antes de se estabelecerem
no mundo, as raças adâmicas, nos seus grupos insulados, guardaram a
reminiscência das promessas do Cristo, que, por sua vez, as fortaleceu no
seio das massas, enviando-lhes periodicamente os seus missionários e mensageiros.
Eis por que as epopéias do Evangelho foram previstas e cantadas
alguns milênios antes da vinda do Sublime Emissário.
Os enviados do Infinito falaram, na China milenária, da celeste figura
do Salvador, muitos séculos antes do advento de Jesus. Os iniciados do
Egito esperavam-no com as suas profecias. Na Pérsia, idealizaram a sua
trajetória, antevendo-lhe os passos nos caminhos do porvir; na Índia
védica, era conhecida quase toda a história evangélica, que o sol dos
milênios futuros iluminaria na região escabrosa da Palestina, e o povo de
Israel, durante muitos séculos, cantou-lhe as glórias divinas, na exaltação
do amor e da resignação, da piedade e do martírio, através da palavra de
seus profetas mais eminentes.
Uma secreta intuição iluminava o espírito divinatório das massas
populares.
Todos os povos O esperavam em seu seio acolhedor; todos O
queriam, localizando em seus caminhos a sua expressão sublime e
divinizada. Todavia, apesar de surgir um dia no mundo, como Alegria de
todos os tristes e Providência de todos os infortunados, à sombra do trono
de Jessé, o Filho de Deus em todas as circunstâncias seria o Verbo de Luz
e de Amor do Princípio, cuja genealogia se confunde na poeira dos sóis
que rolam no Infinito. (*)
__________
(*) Entre as considerações acima e as do capítulo precedente, devemos ponderar o
interstício de muitos séculos. Aliás, no que e refere à historicidade das raças adâmicas,
será justo meditarmos atentamente no
problema da fixação dos caracteres raciais. Apresentando o meu pensamento humilde,
procurei demonstrar as largas experiências que os operários do Invisível levaram a efeito,
sobre os complexos celulares, chegando a dizer da impossibilidade de qualquer cogitação
mendelista nessa época da evolução planetária. Aos prepostos de Jesus foi necessária
grande soma de tempo, no sentido de fixar o tipo humano.
Assim, pois, referindo-nos ao degredo dos emigrantes da Capela, devemos
esclarecer que, nessa ocasião, já o primata hominis se encontrava arregimentado em
tribos numerosas. Depois de grandes experiências, foi que as migrações do Pamir se
espalharam pelo orbe, obedecendo a sagrados roteiros, delineados nas Alturas.
Quanto ao fato de se verificar a reencarnação de Espíritos tão avançados em
conhecimentos, em corpos de raças primigênias, não deve causar repugnância ao
entendimento. Lembremo-nos de que um metal puro, como o ouro, por exemplo, não se
modifica pela circunstância de se apresentar em vaso imundo, ou disforme. Toda
oportunidade de realização do bem é sagrada. Quanto ao mais, que fazer com o
trabalhador desatento que estraçalha no mal todos os instrumentos perfeitos que lhe são
confiados? Seu direito, aos aparelhos mais preciosos, sofrerá solução de continuidade. A
educação generosa e justa ordenará a localização de seus esforços em maquinaria
imperfeita, até que saiba valorizar as preciosidades em mão. A todo tempo, a máquina
deve estar de acordo com as disposições do operário, para que o dever cumprido seja
caminho aberto a direitos novos.
Entre as raças negra e amarela, bem como entre os grandes agrupamentos
primitivos da Lemúria, da Atlântida e de outras regiões que ficaram imprecisas no acervo
de conhecimentos dos povos, os exilados da Capela trabalharam proficuamente,
adquirindo a provisão de amor para suas consciências ressequidas. Como vemos, não
houve retrocesso, mas providência justa de administração, segundo os méritos de cada
qual, no terreno do trabalho e do sofrimento para a redenção. - (Nota de Emmanuel.)
A c i vi l i z a ç ã o e g í p c i a
OS EGÍPCIOS
Dentre os Espíritos degredados na Terra, os que constituíram a
civilização egípcia foram os que mais se destacavam na prática do Bem e
no culto da Verdade.
Aliás, importa considerar que eram eles os que menos débitos
possuíam perante o tribunal da Justiça Divina. Em razão dos seus
elevados patrimônios morais, guardaram no íntimo uma lembrança mais
viva das experiências de sua pátria distante. Um único desejo os animava,
que era trabalhar devotadamente para regressar, um dia, aos seus penates
resplandecentes Uma saudade torturante do céu foi a base de
todas as suas organizações religiosas. Em nenhuma civilização da Terra o
culto da morte foi tão altamente desenvolvido. Em todos os corações
morava a ansiedade de voltar ao orbe distante, ao qual se sentiam presos
pelos mais santos afetos. Foi por esse motivo que, representando uma das
mais belas e adiantadas civilizações de todos os tempos, as expressões
do antigo Egito desapareceram para sempre do plano tangível do planeta.
Depois de perpetuarem nas Pirâmides os seus avançados conhecimentos,
todos os Espíritos daquela região africana regressaram à pátria sideral.
A CIÊNCIA SECRETA
Em virtude das circunstâncias mencionadas, os egípcios traziam
consigo uma ciência que a evolução da época não comportava.
Aqueles grandes mestres da antigüidade foram, então, compelidos a
recolher o acervo de suas tradições e de suas lembranças no ambiente
reservado dos templos, mediante os mais terríveis compromissos dos
iniciados nos seus mistérios. Os conhecimentos profundos ficaram
circunscritos ao circulo dos mais graduados sacerdotes da época,
observando-se o máximo cuidado no problema da iniciação.
A própria Grécia, que aí buscou a alma de suas concepções cheias
de poesia e de beleza, através da iniciativa dos seus filhos mais eminentes,
no passado longínquo, não recebeu toda a verdade das ciências
misteriosas. Tanto é assim, que as iniciações no Egito se revestiam de
experiências terríveis para o candidato à
ciência da vida e da morte - fatos esses que, entre os gregos, eram motivo
de festas inesquecíveis.
Os sábios egípcios conheciam perfeitamente a inoportunidade das
grandes revelações espirituais naquela fase do progresso terrestre;
chegando de um mundo de cujas lutas, na oficina do aperfeiçoamento,
haviam guardado as mais vivas recordações, os sacerdotes mais
eminentes conheciam o roteiro que a Humanidade terrestre teria de
realizar. Aí residem os mistérios iniciáticos e a essencial importância que
lhes era atribuída no ambiente dos sábios daquele tempo.
O POLITEÍSMO SIMBÓLICO
Nos círculos esotéricos, onde pontificava a palavra esclarecida dos
grandes mestres de então, sabia-se da existência do Deus Único e
Absoluto, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres, mas
os sacerdotes conheciam, igualmente, a função dos Espíritos prepostos de
Jesus, na execução de todas as leis físicas e sociais da existência
planetária, em virtude das suas experiências pregressas.
Desse ambiente reservado de ensinamentos ocultos, partiu, então, a
idéia politeísta dos numerosos deuses, que seriam os senhores da Terra e
do Céu, do Homem e da Natureza.
As massas requeriam esse politeísmo simbólico, nas grandes
festividades exteriores da religião.
Já os sacerdotes da época conheciam essa fraqueza das almas
jovens, de todos os tempos,
satisfazendo-as com as expressões esotéricas de suas lições sublimadas.
Dessa idéia de homenagear as forças invisíveis que controlam os
fenômenos naturais, classificando-as para o espírito das massas, na
categoria dos deuses, é que nasceu a mitologia da Grécia, ao perfume das
árvores e ao som das flautas dos pastores, em contacto permanente com a
Natureza.
O CULTO DA MORTE E A METEMPSICOSE
Um dos traços essenciais desse grande povo foi a preocupação
insistente e constante da Morte. A sua vida era apenas um esforço para
bem morrer. Seus papiros e afrescos estão cheios dos consoladores
mistérios do além-túmulo.
Era natural. O grande povo dos faraós guardava a reminiscência do
seu doloroso degredo na face obscura do mundo terreno. E tanto lhe doía
semelhante humilhação, que, na lembrança do pretérito, criou a teoria da
metempsicose, acreditando que a alma de um homem podia regressar ao
corpo de um irracional, por determinação punitiva dos deuses. A
metempsicose era o fruto da sua amarga impressão, a respeito do exílio
penoso que lhe fora infligido no ambiente terrestre.
Inventou-se, desse modo, uma série de rituais e cerimônias para
solenizar o regresso dos seus irmãos à pátria espiritual.
Os mistérios de Ísis e Osíris mais não eram que símbolos das forças
espirituais que presidem aos fenômenos da morte.
OS EGÍPCIOS E AS CIÊNCIAS PSÍQUICAS
As ciências psíquicas da atualidade eram familiares aos magnos
sacerdotes dos templos.
O destino e a comunicação dos mortos e a pluralidade das
existências e dos mundos eram para eles, problemas solucionados e
conhecidos. O estudo de suas artes pictóricas positivam a veracidade
destas nossas afirmações. Num grande número de frescos, apresenta-se o
homem terrestre acompanhado do seu duplo espiritual. Os papiros nos
falam de suas avançadas ciências nesse sentido, e, através deles, podem
os egiptólogos modernos reconhecer que os iniciados sabiam da
existência do corpo espiritual preexistente, que organiza o mundo das
coisas e das formas. Seus conhecimentos, a respeito das energias solares
com relação ao magnetismo humano, eram muito superiores aos da
atualidade. Desses conhecimentos nasceram os processos de
mumificação dos corpos, cujas fórmulas se perderam na indiferença e na
inquietação dos outros povos.
Seus reis estavam tocados do mais alto grau de iniciação,
enfeixando nas mãos todos os poderes espirituais e todos os
conhecimentos sagrados. É por isso que a sua desencarnação provocava
a concentração mágica de todas as vontades, no sentido de cercar-lhes o
túmulo de veneração e de supremo respeito. Esse amor não se traduzia,
apenas, nos atos solenes da mumificação. Também o ambiente dos
túmulos era santificado por um estranho magnetismo. Os grandes
diretores da raça, que faziam jus a semelhantes consagrações, eram
considerados dignos de toda a paz no silêncio da morte.
Nessas saturações magnéticas, que ainda aí estão a desafiar
milênios, residem as razões da tragédia amarga de Lord Carnarvon e de
alguns dos seus companheiros que penetraram em primeiro lugar na
câmara mortuária de Tut Ankh Amon, e ainda por isso é que, muitas vezes,
nos tempos que correm, os aviadores ingleses observam o não
funcionamento dos aparelhos radiofônicos, quando as suas máquinas de
vôo atravessam a limitada atmosfera do vale sagrado.
AS PIRÂMIDES
A assistência carinhosa do Cristo não desamparou a marcha desse
povo cheio de nobreza moral. Enviou-lhe auxiliares e mensageiros,
inspirando-o nas suas realizações, que atravessaram todos os tempos
provocando a admiração e o respeito da posteridade de todos os séculos.
Aquelas almas exiladas, que as mais interessantes características
espirituais singularizam, conheceram, em tempo, que o seu degredo na
Terra atingia o fim. Impulsionados pelas forças do Alto, os círculos
iniciáticos sugerem a construção das grandes pirâmides, que ficariam
como a sua mensagem eterna para as futuras civilizações do orbe. Esses
grandiosos monumentos teriam duas finalidades simultâneas:
representariam os mais sagrados templos de estudo e iniciação, ao
mesmo tempo que constituiriam, para os pósteros, um livro do passado,
com as mais singulares profecias em face das obscuridades do porvir.
Levantaram-se, dessarte, as grandes construções que assombram a
engenharia de todos os tempos. Todavia, não é o colosso de seus milhões
de toneladas de pedra nem o esforço hercúleo do trabalho de sua
justaposição o que mais empolga e impressiona a quantos contemplam
esses monumentos. As pirâmides revelam os mais extraordinários
conhecimentos daquele conjunto de Espíritos estudiosos das verdades da
vida. A par desses conhecimentos, encontram-se ali os roteiros futuros da
Humanidade terrestre. Cada medida tem a sua expressão simbólica,
relativamente ao sistema cosmogônico do planeta e à sua posição no
sistema solar. Ali está o meridiano ideal, que atravessa mais continentes e
menos oceanos, e através do qual se pode calcular a extensão das terras
habitáveis pelo homem, a distância aproximada entre o Sol e a Terra, a
longitude percorrida pelo globo terrestre sobre a sua órbita no espaço de
um dia, a precessão dos equinócios, bem como muitas outras conquistas
científicas que somente agora vêm sendo consolidadas pela moderna
astronomia.
REDENÇÃO
Depois dessa edificação extraordinária, os grandes iniciados do
Egito voltam ao plano espiritual, no curso incessante dos séculos.
Com o seu regresso aos mundos ditosos da Capela, vão
desaparecendo os conhecimentos sagrados dos templos tebanos, que, por
sua vez, os receberam dos grandes sacerdotes de Mênfis.
Aos mistérios de Ísis e de Osíris, sucedem-se os de Elêusis,
naturalmente transformados nas iniciações da Grécia antiga.
Em algumas centenas de anos, reuniram-se de novo, nos planos
espirituais, os antigos degredados, com a sagrada bênção do Cristo, seu
patrono e salvador. A maioria regressa, então, ao sistema da Capela, onde
os corações se reconfortam nos sagrados reencontros das suas afeições
mais santas e mais puras, mas grande número desses Espíritos,
estudiosos e abnegados, conservaram-se nas hostes de Jesus,
obedecendo a sagrados imperativos do sentimento e, ao seu influxo
divino, muitas vezes têm reencarnado na Terra, para desempenho de
generosas e abençoadas missões.
A Í n d i a
A ORGANIZAÇÃO HINDU
Dos Espíritos degredados no ambiente da Terra, os que se gruparam
nas margens do Ganges foram os primeiros a formar os pródromos de
uma sociedade organizada, cujos núcleos representariam a grande
percentagem de ascendentes das coletividades do porvir.
As organizações hindus são de origem anterior à própria civilização
egípcia e antecederam de muito os agrupamentos israelitas, de onde
sairiam mais tarde personalidades notáveis, como as de Abraão e Moisés.
As almas exiladas naquela parte do Oriente muito haviam recebido
da misericórdia do
Cristo, de cuja palavra de amor e de cuja figura luminosa guardaram as
mais comovedoras recordações, traduzidas na beleza dos Vedas e dos
Upanishads. Foram elas as primeiras vozes da filosofia e da religião no
mundo terrestre, como provindo de uma raça de profetas, de mestres e
iniciados, em cujas tradições iam beber a verdade os homens e os povos
do porvir, salientando-se que também as suas escolas de pensamento
guardavam os mistérios iniciáticos, com as mais sagradas tradições de
respeito.
OS ARIANOS PUROS
Era na Índia de então que se reuniam os arianos puros, entre os
quais cultivavam-se igualmente as lendas de um mundo perdido, no qual o
povo hindu colocava as fontes de sua nobre origem. Alguns acreditavam
se tratasse do antigo continente da Lemúria, arrasado em parte pelas
águas dos Oceanos Pacífico e Indico, e de cujas terras ainda existem
porções remanescentes, como a Austrália.
A realidade, porém, qual já vimos, é que, como os egípcios, os
hindus eram um dos ramos da massa de proscritos da Capela, exilados no
planeta. Deles descendem todos os povos arianos, que floresceram na
Europa e hoje atingem um dos mais agudos períodos de transição na sua
marcha evolutiva. O pensamento moderno é o descendente legitimo
daquela grande raça de pensadores, que se organizou nas margens do
Ganges, desde a aurora dos tempos terrestres, tanto que todas as línguas
das raças brancas guardam as mais estreitas afinidades com
o sânscrito, originário de sua formação e que constituía uma reminiscência
da sua existência pregressa, em outros planos.
O EXPANSIONISMO DOS ÁRIAS
Muitos séculos antes de qualquer prenúncio de civilização terrestre,
os árias espalharam-se pelas planícies hindus, dominando os autóctones,
descendentes dos "primatas", que possuíam uma pele escura e deles se
distanciavam pelos mais destacados caracteres físicos e psíquicos. Mais
tarde, essa onda expansionista procurou localizar-se ao longo das terras
da futura Europa, estabelecendo os primeiros fundamentos da civilização
ocidental nos bosques da Grécia, nas costas da Itália e da França, bem
como do outro lado do Reno, onde iam ensaiar seus primeiros passos as
forças da sabedoria germânica.
As balizas da sociedade dos gregos, dos latinos, dos celtas e dos
germanos estavam lançadas.
Cada corrente da raça ariana assimilou os elementos encontrados,
edificando-se os primórdios da civilização européia; cada qual se baseou
no princípio da força para o necessário estabelecimento, e, muito cedo,
começaram no Velho Mundo os choques de suas famílias e tribos.
OS MAHATMAS
Da região sagrada do Ganges partiram todos os elementos
irresignados com a situação
humilhante que o degredo da Terra lhes infligia. As arriscadas aventuras
forneceriam uma noção de vida nova e aqueles seres revoltados
supunham encontrar o esquecimento de sua posição nas paisagens
renovadas dos caminhos; lá ficaram, apenas, as almas resignadas e
crentes nos poderes espirituais que as conduziriam de novo às
magnificências dos seus paraísos perdidos e distantes.
Os cânticos dos Vedas são bem uma glorificação da fé e da
esperança, em face da Majestade Suprema do Senhor do Universo. A
faculdade de tolerar, e esperar, aflorou no sentimento coletivo das
multidões, que suportaram heroicamente todas as dores e aguardaram o
momento sublime da redenção. Os "mahatmas" criaram um ambiente de
tamanha grandeza espiritual para o seu povo, que, ainda hoje, nenhum
estrangeiro visita a terra sagrada da Índia sem de lá trazer as mais
profundas impressões acerca de sua atmosfera psíquica. Eles deixaram
também, ao mundo, as suas mensagens de amor, de esperança e de
estoicismo resignado, salientando-se que quase todos os grandes vultos
do passado humano, progenitores do pensamento contemporâneo, deles
aprenderam as lições mais sublimes.
AS CASTAS
O povo hindu, não obstante o seu elevado grau de desenvolvimento
nas ciências do Espírito, não aproveitou de modo geral, como devia, o seu
acervo de experiências sagradas.
Seus condutores conheciam as elevadas finalidades da vida.
Lembravam-se vagamente das promessas do Senhor, anteriores à sua
reencarnação para os trabalhos do penoso degredo. A prova disso é que
eles abraçaram todos os grandes missionários do pretérito, vendo neles
os avatares do seu Redentor. Viasa foi instrumento das lições do Cristo,
seis mil anos antes do Evangelho, cuja epopéia, em seus mínimos
detalhes, foi prevista pelos iniciados hindus, alguns milênios antes da
organização da Palestina. Krishna, Buda e outros grandes enviados de
Jesus ao plano material, para exposição de suas verdades salvadoras,
foram compreendidos pelo grande povo sobre cuja fronte derramou o
Senhor, em todos os tempos, as claridades divinas do seu amor desvelado
e compassivo. Mas, como se a questão fosse determinada por um
doloroso atavismo psíquico, o povo hindu, embora as suas tradições de
espiritualidade, deixou crescer no coração o espinho do orgulho que, aliás,
dera motivo ao seu exílio na Terra.
Em breve, a organização das castas separava as suas coletividades
para sempre. Essas castas não se constituíam num sentido apenas
hierárquico, mas com a significação de uma superioridade orgulhosa e
absoluta. As fortes raízes de uma vaidade poderosa dividem os espíritos
no campo social e religioso. Os filhos legítimos do país dão-se o nome de
árias, designação original de sua raça primitiva, e o seu sistema religioso,
de modo geral, chama-se "Ária-Darma", que eles afirmam trazer de sua
longínqua origem, e em cujo seio não existem comunidades especiais ou
autoridade centralizadora senão profunda e maravilhosa liberdade de sentimento.
OS RAJÁS E OS PÁRIAS
Na verdade, esses sistemas avançados de religião e filosofia evocam
o fastígio da raça no seu mundo de origem, de onde foi precipitada ao orbe
terreno pelo seu orgulho desmedido e infeliz.
Os arianos da Índia, porém, não se compadeceram das raças
atrasadas que encontraram em seu caminho e cuja evolução devia
representar para eles um imperativo de trabalho regenerador na face da
Terra; os aborígenes foram considerados como os párias da sociedade, de
cujos membros não podiam aproximar-se sem graves punições e severos
castigos.
Ainda hoje, o espírito iluminado de Gandhi, que é obrigado a agir na
esfera da mais atenciosa psicologia dos seus irmãos de raca não
conseguiu eliminar esses absurdos sociais do seio do grande povo de
iniciados e profetas. Os párias são a ralé de todos os seres e são
obrigados a dar um sinal de alarme quando passam por qualquer caminho,
a fim de que os venturosos se afastem do seu contágio maléfico.
A realidade, contudo, é que os rajás soberanos, ao influxo da
misericórdia do Cristo, voltam às mesmas estradas que transitaram sobre
o dorso dos elefantes ajaezados de pedrarias, como mendigos
desventurados, resgatando o pretérito em avatares de amargas provações
expiatórias. Os que humilharam os
infortunados, do alto de seus palácios resplandecentes, volvem aos
mesmos caminhos, cheios de chagas cancerosas, exibindo a sua miséria e
a sua indigência.
E o que é de admirar-se é que nenhum povo da Terra tem mais
conhecimentos, acerca da reencarnação, do que o hindu, ciente dessa
verdade sagrada desde os primórdios da sua organização neste mundo.
EM FACE DE JESUS
Nos bastidores da civilização, somos compelidos a reconhecer que a
Índia foi a matriz de todas as filosofias e religiões da Humanidade,
inclusive do materialismo, que lá nasceu na escola dos charvacas.
Um pensamento de gratidão nos toma o íntimo, examinando a sua
grandeza espiritual e as suas belezas misteriosas, mas, acima dos seus
iogues e de seus "mahatmas", temos de colocar a figura luminosa dAquele
que é a luz do mundo, e cuja vinda à Terra se verificaria para trazer a palma
da concórdia e da fraternidade, para todos os corações e para todos os
povos, arrasando as fronteiras que separam os espíritos e eliminando os
laços ferrenhos das castas sociais, para que o amor das almas
substituísse o preconceito de raça no seu reinado sem-fim.
A f amí l i a i n d o - e u r o p é i a
AS MIGRAÇÕES SUCESSIVAS
Se as civilizações hindu e egípcia definiram-se no mundo em breves
séculos, o mesmo não aconteceu com a civilização ariana, que ia iniciar na
Europa os seus movimentos evolutivos.
Somente com o escoar de muitos séculos regularizaram-se as suas
migrações sucessivas, através dos planaltos da Pérsia. Do Irá procederam
quase todas as correntes da raça branca, que representariam mais tarde
os troncos genealógicos da família indo-européia.
Conforme afirmávamos, os arianos que procuravam as novas
emoções de uma terra
desconhecida eram, na sua maioria, os espíritos revoltados com as
condições do seu degredo; pouco afeitos aos misteres religiosos que, pela
força das circunstâncias, impunham uma disciplina de resignação e
humildade, não cuidaram da conservação do seu tradicionalismo, na ânsia
de conquistar um novo paraíso e serenarem, assim, as suas inquietações
angustiosas.
A AUSÊNCIA DE NOTÍCIAS HISTÓRICAS
Aí reside a razão do escasso conhecimento dos historiadores,
acerca dos árias primitivos que lançaram os marcos da civilização
européia.
Caminheiros do desconhecido, erraram pelas planícies e montanhas
desertas, não como o povo hebreu, que guardava a palavra divina com a
sua fé, mas desarvorados e sem esperança, contando apenas com as
próprias forças, em virtude do seu caráter livre e insubmisso
Suas incursões, entre as tribos selvagens da Europa, datam de mais
ou menos dez milênios antes da vinda do Cristo, não obstante a
humanidade localizar-lhe a marcha apenas quatro mil anos antes do
grande acontecimento da Judéia. É que, em vista de sua situação
psicológica, os primitivos árias do Velho Mundo não deixaram vestígios
nos domínios da fé, único caminho, daqueles tempos, através do qual
poderia uma raça assinalar sua passagem pela Terra. Não guardavam a
história verbal de uma religião que não possuíam. Mais revoltados e
enrijecidos que todos os demais companheiros exilados no orbe terrestre,
suas reminiscências da vida pregressa nos planos mais
elevados, qual a que haviam experimentado no sistema da Capela,
traduziam-se numa revolta íntima, amargurada e dolorosa, contra as
determinações de ordem divina. Apenas, muito mais tarde, com a
contribuição dos milênios, os celtas retornaram ao culto divino, venerando
as forças da Natureza, junto dos carvalhos sagrados, e os germanos
iniciaram a sua devoção ao fogo, que personificava, a seus olhos, a
potência criadora dos seres e das coisas, enquanto outros povos
começaram a sacrificar vítimas e objetos aos seus numerosos deuses.
A GRANDE VIRTUDE DOS ÁRIAS EUROPEUS
A misericórdia do Cristo, porém, jamais deixou de acompanhar esse
grande povo no seu atribulado desterro. Ao influxo dos seus emissários,
as massas migratórias da Ásia se dividiram cm grupos diversos, que
penetraram na Europa, desde o Peloponeso até as vastas regiões da
Rússia, onde se encontram os antepassados dos gregos, latinos,
samnitas, úmbrios, gauleses, citas, iberos, romanos, saxônios, germanos,
eslavos. Essas tribos assimilaram todos os elementos encontrados em
seus caminhos, impulsionando-lhes os passos nas sendas do progresso e
do aperfeiçoamento. Enquanto os semitas e hindus se perderam na
cristalização do orgulho religioso, as famílias arianas da Europa, embora
revoltadas e endurecidas, confraternizaram com o selvagem e nisso reside
a sua maior virtude. Assimilando os aborígenes, engendraram as
premissas de
todos os surtos das civilizações futuras. Nessa movimentação para o
estabelecimento de novo "habitat", organizaram as primeiras noções
políticas da vida coletiva, elegendo cada tribo um chefe para a direção de
sua vida em comum. A agricultura, as indústrias pastoris, com elas
encontraram os primeiros impulsos nas estradas incertas dos que
descendiam do "primata" europeu. Com as organizações econômicas,
oriundas do trato direto com o solo, deixaram perceber a lembrança de
suas lutas no antigo mundo que haviam deixado. Bastou que
inaugurassem na Terra o senso da propriedade, para que o germe da
separatividade e do ciúme, da ambição e do egoísmo lhes destruísse os
esforços benfazejos...
As rivalidades entre as tribos, na vida comum, induziram-nas aos
primeiros embates fratricidas.
O MEDITERRÂNEO E O MAR DO NORTE
Por essa época, novos fenômenos geológicos abalam a vida do
globo.
Precisava Jesus estabelecer as linhas definitivas da grande
civilização, cujos primórdios se levantavam; e dessas convulsões físicas
do orbe surgem renovações que definem o Mediterrâneo e o Mar do Norte,
fixando-se os limites da ação daqueles núcleos de operários da evolução
coletiva.
O Cristo sabia valorizar a atividade da família indo-européia, que, se
era a mais revoltada contra os desígnios do Alto, era também a única que
confraternizava com o selvagem,
aperfeiçoando-lhe os caracteres raciais, sem esmorecer na ação
construtiva das oficinas do porvir. Através dos milênios, aliviou-lhe os
pesares no caminho sobrecarregado de lutas e dores tenazes. Assim,
enviou-lhe emissários em todas as circunstâncias, atendendo-lhe os
secretos apelos do coração, no labor educativo das tribos primitivas do
continente. Suavizou-lhe a revolta e a amargura, ajudando a reconstruir o
templo da fé, na esteira das gerações. Nos bosques da Armórica, os celtas
antigos levantaram os altares da crença entre as árvores sagradas da
Natureza. Doces revelações espirituais caem na alma desse povo místico e
operoso, que, muito antes dos saxões, povoou as terras da Grã-Bretanha.
A reencarnação de numerosos auxiliares do Mestre, em seus labores
divinos, opera uma nova fase de evolução no seio da família indo-européia,
já caracterizada pelas mais diversas expressões raciais. Enquanto os
germanos criam novas modalidades de progresso, o Lácio se ergue na
Itália Central, entre a Etrúria e a Campânia; a Grécia se povoa de mestres e
cantores, e todo o Mediterrâneo oriental evolve com o uso da escrita,
adquirido na convizinhança das civilizações mais avançadas.
OS NÓRDICOS E OS MEDITERRÂNICOS
O fenômeno das trocas e os primeiros impulsos comerciais
levantam, todavia, longa série de barreiras entre as relações desses povos.
De um lado, estavam os nórdicos e de outro permaneciam os
mediterrânicos, em luta acérrima e constante. A rivalidade acende nessas duas facções os fogos da
guerra, sob os céus tranqüilos do Velho Mundo. Uns e outros empunham
as armas primitivas para as lutas de extermínio e destruição das hostes
inimigas, e a linha divisória dos litigantes se alonga justamente no local
onde hoje se traçam os limites da França e da Alemanha contemporâneas.
É como se explica essa intensidade de aversão racial entre as duas
nações, contadas entre as mais progressistas e operosas do planeta. Tal
situação psicológica entre ambas haveria de tornar-se em fatalidade
histórica, oriunda dos atritos entre o Germanismo e a Latinidade, nas
épocas primitivas. O que se não justifica, porém, é a perpetuação dessas
animosidades no curso do tempo, pelo que se impõe, como imperativo
constante, a concentração de todos os pensamentos no objetivo da
fraternidade geral.
ORIGEM DO RACIONALISMO
Os arianos da Europa, como ficou esclarecido, não possuíram
grandes ascendentes religiosos na sua formação primitiva, em vista do
senso prático que os caracterizou nos primeiros tempos de sua
organização.
O racionalismo de suas concepções, a tendência para as ciências
positivas e o amor pela hegemonia e liberdade são, dessa maneira,
elucidados dentro da análise dos seus primórdios. Em matéria de religião,
quase todos os seus passos foram orientados pelos povos semitas e
hindus, mas, pelo cultivo da razão, puderam
aperfeiçoar a Ciência até às culminâncias das conquistas modernas.
O mundo, se muitas vezes perdeu com as suas inquietações e com
as suas lutas renovadoras, muito lhes deve pela colaboração decidida e
sincera no labor do pensamento, em todas as épocas e períodos
evolutivos.
AS ADVERTÊNCIAS DO CRISTO
A sua confraternização com os terrícolas primários, encontrados no
seu caminho, constitui uma divida sagrada da Humanidade para com os
seus labores planetários.
O Senhor da semeadura e da seara não lhes desconhece essa
grande virtude e é por isso que as exortações de toda natureza são por ele
enviadas do Alto, nos tempos que correm, às nações européias, a fim de
que se preservem do extermínio e da destruição terrestre, arrancando-as
do primitivismo para um elevado nível de aperfeiçoamento nos grandes
trabalhos construtivos da evolução global; se erraram muito, foram
igualmente muito sinceras, porque a sua inquietação era por levantar um
novo paraíso para si mesmas e para os homens terrestres, com cujas
famílias fraternizaram-se desde o princípio. Faltaram-lhes os valores
espirituais de uma perfeita base religiosa, situação essa para a qual
concorreram, inegavelmente, na utilização do livre-arbítrio; mas o Cristo,
nas dolorosas transições deste século, há de amparar-lhes as expressões
mais dignas e mais puras, espiritualmente falando, e, no momento
psicológico das grandes transformações, o fruto
de suas atividades fecundas há de ser aproveitado, como a semente nova,
para a civilização do porvir.
O p o vo d e I s r a e l
ISRAEL
Dos Espíritos degredados na Terra, foram os hebreus que
constituíram a raça mais forte e mais homogênea, mantendo inalterados os
seus caracteres através de todas as mutações.
Examinando esse povo notável no seu passado longínquo,
reconhecemos que, se grande era a sua certeza na existência de Deus,
muito grande também era o seu orgulho, dentro de suas concepções da
verdade e da vida.
Consciente da superioridade de seus valores, nunca perdeu
oportunidade de demonstrar a sua vaidosa aristocracia espiritual,
mantendo-se pouco acessível à comunhão perfeita com
as demais raças do orbe. Entretanto, em honra da verdade, somos
obrigados a reconhecer que Israel, num paradoxo flagrante, antecipandose às conquistas dos outros povos, ensinou de todos os tempos a
fraternidade, a par de uma fé soberana e imorredoura - Sem pátria e sem
lar, esse povo heróico tem sabido viver em todos os climas sociais e
políticos, exemplificando a solidariedade humana nas melhores tradições
de trabalho; sua existência histórica, contudo, é uma lição dolorosa para
todos os povos do mundo, das conseqüências nefastas do orgulho e do
exclusivismo.
MOISÉS
As lendas da Torre de Babel não representam um mito nas páginas
antigas do Velho Testamento, porque o exílio na Terra não pesou tanto às
outras raças degredadas quanto na alma orgulhosa dos judeus,
inadaptados e revoltados num mundo que os não compreendia.
Sem procurarmos os seus antepassados, anteriores a Moisés,
vamos encontrar o grande legislador hebreu saturando-se de todos os
conhecimentos iniciáticos, no Egito antigo, onde o seu espírito recebeu
primorosa educação, à sombra do prestígio de Termútis, cuja caridade
fraterna o recolhera.
Moisés, na sua qualidade de mensageiro do Divino Mestre, procura
então concentrar o seu povo para a grande jornada em busca da Terra da
Promissão. Médium extraordinário, realiza grandes feitos ante os seus
irmãos e companheiros maravilhados. É quando então recebe,
de emissários do Cristo, no Sinai, os dez sagrados mandamentos que, até
hoje, representam a base de toda a justiça do mundo.
Antes de abandonar as lutas da Terra, na extática visão da Terra
Prometida, Moisés lega à posteridade as suas tradições no Pentateuco,
iniciando a construção da mais elevada ciência religiosa de todos os
tempos, para as coletividades porvindouras.
O JUDAÍSMO E O CRISTIANISMO
Estudando-se a trajetória do povo israelita, verifica-se que o Antigo
Testamento é um repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do
povo judeu, e que somente os grandes mestres da raça poderiam
interpretá-lo fielmente, nas épocas mais remotas.
Eminentes espiritualistas franceses, nestes últimos tempos,
procuraram penetrar os seus obscuros segredos e, todavia, aproximandose da realidade com referência às interpretações, não lhes foi possível
solucionar os vastos problemas que as suas expressões oferecem.
Os livros dos profetas israelitas estão saturados de palavras
enigmáticas e simbólicas, constituindo um monumento parcialmente
decifrado da ciência secreta dos hebreus. Contudo, e não obstante a sua
feição esfingética, é no conjunto um poema de eternas claridades. Seus
cânticos de amor e de esperança atravessam as eras com o mesmo sabor
indestrutível de crença e de beleza. É por isso que, a par do Evangelho,
está o Velho Testamento tocado de clarões imortais, para a visão espiritual de
todos os corações. Uma perfeita conexão reúne as duas Leis, que
representam duas etapas diferentes do progresso humano. Moisés, com a
expressão rude da sua palavra primitiva, recebe do mundo espiritual as
leis básicas do Sinai, construindo desse modo o grande alicerce do
aperfeiçoamento moral do mundo; e Jesus, no Tabor, ensina a
Humanidade a desferir, das sombras da Terra, o seu vôo divino para as
luzes do Céu.
O MONOTEÍSMO
O que mais admira, porém, naquelas tribos nômadas e
desprotegidas, é a fortaleza espiritual que lhes nutria a fé nos mais
arrojados e espinhosos caminhos.
Enquanto a civilização egípcia e os iniciados hindus criavam o
politeísmo para satisfazer os imperativos da época, contemporizando com
a versatilidade das multidões, o povo de Israel acreditava somente na
existência do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual aprendia a sofrer
todas as injúrias e a tolerar todos os martírios.
Quarenta anos no deserto representaram para aquele povo como
que um curso de consolidação da sua fé, contagiosa e ardente.
Seguiu-lhe Jesus todos os passos, assistindo-o nos mais delicados
momentos de sua vida e foi ainda, sob o pálio da sua proteção, que se
organizaram os reinos de Israel e de Judá, na Palestina.
Todas as raças da Terra devem aos judeus esse benefício sagrado,
que consiste na revelação do Deus Único, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os
seres.
O grande legislador dos hebreus trouxera a determinação de Jesus,
com respeito à simplificação das fórmulas iniciáticas, para compreensão
geral do povo; a missão de Moisés foi tornar acessíveis ao sentimento
popular as grandes lições que os demais iniciados eram compelidos a
ocultar. E, de fato, no seio de todas as grandes figuras da antigüidade,
destaca-se o seu vulto como o primeiro a rasgar a cortina que pesa sobre
os mais elevados conhecimentos, filtrando a luz da verdade religiosa para
a alma simples e generosa do povo.
A ESCOLHA DE ISRAEL
No reino de Israel sucederam-se as tribos e os enviados do Senhor.
Todos os seus caminhos no mundo estão cheios de vozes proféticas e
consoladoras, acerca dAquele que ao mundo viria para ser glorificado
como o Cordeiro de Deus.
A cada século renovam-se as profecias e cada templo espera a
palavra de ordem dos Céus, através do Salvador do Mundo. Os doutores
da Lei, no templo de Jerusalém, confabulam, respeitosos, sobre o Divino
Missionário; na sua vaidade orgulhosa esperavam-no no seu carro
vitorioso, para proclamar a todas as gentes a superioridade de Israel e
operar todos os milagres e prodígios.
E, recordando esses apontamentos da história, somos naturalmente
levados a perguntar o porque da preferência de Jesus pela árvore
de David, para levar a efeito as suas divinas lições à Humanidade; mas a
própria lógica nos faz reconhecer que, de todos os povos de então, sendo
Israel o mais crente, era também o mais necessitado, dada a sua vaidade
exclusivista e pretensiosa "Muito se pedirá de quem muito haja recebido",
e os israelitas haviam conquistado muito, do Alto, em matéria de fé, sendo
justo que se lhes exigisse um grau correspondente de compreensão, em
matéria de humildade e de amor.
A INCOMPREENSÃO DO JUDAÍSMO
A verdade, porém, é que Jesus, chegando ao mundo, não foi
absolutamente entendido pelo povo judeu. Os sacerdotes não esperavam
que o Redentor procurasse a hora mais escura da noite para surgir na
paisagem terrestre. Segundo a sua concepção, o Senhor deveria chegar no
carro magnificente de suas glórias divinas, trazido do Céu à Terra pela
legião dos seus Tronos e Anjos; deveria humilhar todos os reis do mundo,
conferindo a Israel o cetro supremo na direção de todos os povos do
planeta; deveria operar todos os prodígios, ofuscando a glória dos
Césares. E, no entanto, o Cristo surgira entre os animais humildes da
manjedoura; apresentava-se como filho de um carpinteiro e, no
cumprimento de sua gloriosa missão de amor e de humildade, protegia as
prostitutas, confundia-se com os pobres e com os humilhados, visitava as
casas suspeitas para de Iá arrancar os seus auxiliares e seguidores; seus
companheiros prediletos eram os pescadores
ignorantes e humildes, dos quais fazia apóstolos bem-amados.
Abandonando os templos da Lei, era freqüentemente encontrado ao longo
do Tiberíades, em cujas margens pregava aos simples a fraternidade e o
amor, a sabedoria e a humildade. O judaísmo, saturado de orgulho, não
conseguiu compreender a ação do celeste emissário. Apesar da crença
fervorosa e sincera, Israel não sabia que toda a salvação tem de começar
no íntimo de cada um e, cumprindo as profecias de seus próprios filhos,
conduziu aos martírios da cruz o divino Cordeiro.
NO PORVIR
As organizações dos doutores da Lei subsistiram no curso
incessante dos tempos. Embalde esperaram eles outro Cristo, nestes dois
milênios que ora chegam a termo. A realidade é que um sopro de amargura
pesou mais fortemente sobre os destinos da raça, depois da ignominiosa
tarde do Calvário. As sombras simbólicas, que caíram sobre o Templo de
Jerusalém, acompanharam igualmente o povo escolhido em todas as
diretivas, pelas estradas longas do mundo, com amplos reflexos no
ambiente contemporâneo.
Israel continua a cultuar o Deus Todo-Poderoso dos seus profetas,
seus rituais prosseguem em pontos isolados do orbe inteiro.
É talvez a raça mais livre, mais internacionalista, mais fraternal, entre
si, mas também a mais altiva e exclusivista do mundo.
Apesar de não ter uma pátria (*) e não obstante todas as
perseguições e clamorosas injustiças experimentadas nas suas jornadas
de sofrimento, Israel faz o seu roteiro através das cidades tumultuosas,
esperando o Messias da sua redenção e da sua liberdade.
Jesus acompanha-lhe a marcha dolorosa através dos séculos de
lutas expiatórias e regeneradoras.
Novos conhecimentos dimanam do Céu para o coração dos seus
patriarcas e não tardará muito tempo para que vejamos os judeus
compreendendo integralmente a missão sublime do verdadeiro
Cristianismo e aliando-se a todos os povos da Terra para a caminhada
salvadora, em busca da edificação de um mundo melhor.
__________
(*) Nota da Editora: Este livro foi escrito em 1938, dez anos antes de ser criado, na
Palestina, o Estado de Israel.
A Ch i n a mi l e n á r i a
A CHINA
Depois de nossas divagações a respeito da raça branca, que se
constituía dos antigos árias no ambiente da Terra, é cabível examinarmos
a árvore mais antiga das civilizações terrestres, a fim de observarmos a
assistência carinhosa e constante do Divino Mestre para com todas as
criaturas de Deus.
Inegavelmente, o mais prístino foco de todos os surtos evolutivos do
globo é a China milenária, com o seu espírito valoroso e resignado, mas
sem rumo certo nas estradas da edificação geral.
Quando se verificou o advento das almas proscritas do sistema da
Capela, em épocas remotíssimas, já a existência chinesa contava com uma
organização regular, oferecendo os tipos mais homogêneos e mais
selecionados do planeta, em face dos remanescentes humanos primitivos.
Suas tradições já andavam de geração em geração, construindo as obras
do porvir. Daí se infere que, de fato, a história da China remonta a épocas
remotíssimas, no seu passado multimilenário, e esse povo, que deixa
agora entrever uma certa estagnação nos seus valores evolutivos, sempre
foi igualmente acompanhado na sua marcha por aquela misericórdia
infinita que, do Céu, envolve todos os corações que latejam na Terra.
A CRISTALIZAÇÃO DAS IDÉIAS CHINESAS
A cristalização das idéias chinesas advém, simplesmente, desse
insulamento voluntário que prejudicou, nas mesmas circunstâncias, o
espírito da Índia, apesar da fascinante beleza das suas tradições e dos
seus ensinos.
É que a civilização e o progresso, como a própria vida, dependem
das trocas incessantes. O Universo, na sua constituição maravilhosa, não
criou nem sanciona leis de isolamento na comunidade eterna dos mundos
e dos seres. A existência é uma longa escada, na qual todas as almas
devem dar-se as mãos, na subida para
o conhecimento e para Deus. Enquanto a família indo-européia pervagava
no desconhecido, assimilando as expressões das tribos encontradas
- em longas iniciativas de construção e trabalho -, os arianos da Índia
estacionaram no repouso de suas tradições, desenvolvendo-se, no curso
do tempo, as mais prestigiosas lições de experiência para a alma dos
povos. E agora, quando os israelitas são chamados por forças poderosas
ao deslocamento no seio das nações, a fim de aprenderem mais
intimamente a doce lição da fraternidade e do amor universal, renovando a
fibra da sua fé a caminho da perfeita compreensão do Cristo, a China é
também convocada, pelas transformações do século, à grande lição do
entrelaçamento da comunidade planetária, a fim de ensinar as suas
virtudes e aprender as virtudes dos outros povos.
Foi pela sua obstinada resistência que a idéia chinesa estagnou-se
na marcha do tempo, embora, nestas despretensiosas observações,
sejamos dos primeiros a reconhecer a grandeza de suas elevadas
expressões espirituais.
FO-HI
Jesus, na sua proteção e na sua misericórdia, desde os tempos mais
distantes enviou missionários àqueles agrupamentos de criaturas que se
organizavam, econômica e politicamente, entre as coletividades primárias
da Terra.
As raças adâmicas ainda não haviam chegado ao orbe terrestre e
entre aqueles povos já se ouviam grandes ensinamentos do plano
espiritual, de sumo interesse para a direção e solução de todos os
problemas da vida.
A História não vos fala de outros, antes do grande Fo-Hi, que foi o
compilador de suas
ciências religiosas, nos seus trigramas duplos, que passaram do pretérito
remotíssimo aos estudos da posteridade.
Fo-Hi refere-se, no seu "Y-King", aos grandes sábios que o
antecederam no penoso caminho das aquisições de conhecimento
espiritual. Seus símbolos representam os característicos de uma ciência
altamente evolutiva, revelando ensinamentos de grande pureza e da mais
avançada metafísica.
Em seguida a esse grande missionário do povo chinês, o Divino
Mestre envia-lhe a palavra de Confúcio ou Kong-Fo-Tsé, cinco séculos
antes da sua vinda, preparando os caminhos do Evangelho no mundo, tal
como procedera com a Grécia, Roma e outros centros adiantados do
planeta, enviando-lhes elevados Espíritos da ciência, da religião e da
filosofia, algum tempo antes da sua palavra mirífica, a fim de que a
Humanidade estivesse preparada para a aceitação dos seus ensinos.
CONFÚCIO E LAO-TSÉ
Confúcio, na qualidade de missionário do Cristo, teve de saturar-se
de todas as tradições chinesas, aceitar as circunstâncias imperiosas do
meio, de modo a beneficiar o país na medida de suas possibilidades de
compreensão. Ele faz ressurgir os ensinamentos de Lao-Tsé, que fora, por
sua vez, um elevado mensageiro do Senhor para as raças amarelas. Suas
lições estão cheias do perfume de requintada sabedoria moral. No "KanIng", de Lao-Tsé, eis algumas de suas afirmações que nada ficam a dever
aos vossos
conhecimentos e exposições do moderno pensamento religioso: - "O
Senhor dos Céus é bom e generoso, e o homem sábio é um pouco de suas
manifestações. Na estrada da inspiração, eles caminham juntos e o sábio
lhe recebe as idéias, que enchem a vida de alegria e de bens."
Lao-Tsé, de cujos ensinamentos Confúcio fez questão de formar a
base dos seus princípios, viveu seis séculos antes do advento do Senhor,
e, em face dessa filosofia religiosa, avançada e superior, somos obrigados
a reconhecer a prodigalidade da misericórdia de Jesus, enviando os seus
porta-vozes a todos os pontos da Terra, com o objetivo de fazer
desabrochar no espírito das massas a melhor compreensão do seu
Evangelho de Verdade e de Amor, que
o mundo, entretanto, ainda não compreendeu, não obstante todos os seus
sacrifícios.
O NIRVANA
Para fundamentar devidamente a nossa opinião relativa à
estagnação do espírito chinês, examinemos ainda as suas interessantes e
elevadas concepções religiosas.
De um modo geral, é o culto dos antepassados o principio da sua fé.
Esse culto, cotidiano e perseverante, é a base da crença na imortalidade,
porquanto de suas manifestações ressaltam as provas diárias da
sobrevivência. As relações com o plano invisível constituem um fenômeno
comum, associado à existência do indivíduo mais obscuro. A idéia da
necessidade de aperfeiçoamento espiritual é latente em todos
os corações, mas o desvio inerente à compreensão do Nirvana é aí,
como em numerosas correntes do budismo, um obstáculo ao progresso
geral.
O Nirvana, examinado em suas expressões mais profundas, deve ser
considerado como a união permanente da alma com Deus, finalidade de
todos os caminhos evolutivos; nunca, porém, como sinônimo de
imperturbável quietude ou beatifica realização do não ser. A vida é a
harmonia dos movimentos, resultante das trocas incessantes no seio da
natureza visível e invisível. Sua manutenção depende da atividade de todos
os mundos e de todos os seres. Cada individualidade, na prova, como na
redenção, como na glória divina, tem uma função definida de trabalho e
elevação dos seus próprios valores. Os que aprenderam os bens da vida e
quantos os ensinam com amor, multiplicam na Terra e nos Céus os dons
infinitos de Deus.
A CHINA ATUAL
A falsa interpretação do Nirvana disturbou as elevadas
possibilidades criadoras do espírito chinês, cristalizou-lhe as concepções
e paralisou-lhe a marcha para as grandes conquistas.
É certo que essas conquistas não consistem nas metralhadoras e
nas bombardas da civilização do Ocidente, cheia de comodidades
multifárias, mas aqui me refiro à incompreensão geral acerca da lição
sublime do Cristo e dos seus enviados.
A China, como os outros povos do mundo, tem de esmar neste
século os valores obtidos na sua caminhada longa e penosa
Destas palavras, não há inferir que a invasão japonesa, na sua
incrível agressividade, esteja tocada de uma sanção divina. O Japão
poderá realizar, na grande república, todas as conquistas materiais;
usando a psicologia dos conquistadores, poderá melhorar as condições
sanitárias do povo, rasgar estradas e multiplicar escolas; mas não
amortecerá a energia perseverante do espírito chinês, valoroso e
resignado, que poderá até ceder-lhe as próprias rédeas do governo,
enchendo-o de fortuna, de suntuosidade e de honrarias, sem desprestígio
do seu próprio valor, porquanto a China milenária sabe que os espíritos de
rapina embriagam-se facilmente com o vinho de sangue do triunfo, e tão
logo o luxo lhes amoleça as fibras da desesperação, todas as vitórias
voltam, automaticamente, à reflexão, ao raciocínio, à cultura e à
inteligência.
O que se faz necessário examinar é o estado de estagnação da alma
chinesa nestes últimos séculos, para concluirmos pela sua necessidade
imperiosa de comungar no banquete de fraternidade dos outros povos.
A EDIFICAÇÃO DO EVANGELHO
É verdade que a palavra direta do Cristo, consubstanciada no seu
Evangelho, ainda não chegou até lá de um modo geral, aclarando o
caminho de todos os corações, mas um sopro de vida romperá as sombras
milenárias que
caíram sobre a república chinesa, onde milhões de almas repousam,
indevidamente, na falsa compreensão do Nirvana e do Absoluto. Mãos
valorosas erguerão o monumento evangélico naquele mundo de dolorosas
antigüidades, e um novo dia raiará para a grande nação que se tornou em
símbolo de paciência e de perseverança, para os outros povos.
Esperemos a providência dAquele que guarda em suas mãos
augustas e misericordiosas a direção do mundo.
"Bem-aventurados os pacíficos, os aflitos, os humildes."
E as suas palavras mansas e carinhosas nos fazem lembrar a China
milenária, que, amando a paz, sofre agora o insulto das forças tenebrosas
da ambição, da injustiça e da iniquidade.
As g r a n d e s r e l i g i õ e s d o p a s s a d o
AS PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES
RELIGIOSAS
As primeiras organizações religiosas da Terra tiveram, naturalmente,
sua origem entre os povos primitivos do Oriente, aos quais enviava Jesus,
periodicamente, os seus mensageiros e missionários.
Dada a ausência da escrita, naquelas épocas longínquas, todas as
tradições se transmitiam de geração a geração através do mecanismo das
palavras. Todavia, com a cooperação dos degredados do sistema da
Capela, os rudimentos das artes gráficas receberam os primeiros
impulsos, começando a florescer uma nova era de conhecimento
espiritual, no campo das concepções religiosas.
Os Vedas, que contam mais de seis mil anos, já nos falam da
sabedoria dos "Sastras", ou grandes mestres das ciências hindus, que os
antecederam de mais ou menos dois milênios, nas margens dos rios
sagrados da Índia. Vê-se, pois, que a idéia religiosa nasceu com a própria
Humanidade, constituindo o alicerce de todos os seus esforços e
realizações no plano terráqueo.
AINDA AS RAÇAS ADÂMICAS
Não podemos, porém, esquecer que Jesus reunira nos espaços
infinitos os seres proscritos que se exilaram na Terra, antes de sua
reencarnação geral na vizinhança dos planaltos do Irá e do Pamir.
Obedecendo às determinações superiores do mundo espiritual, eles
nunca puderam esquecer a palavra salvadora do Messias e as suas divinas
promessas. As belezas do espaço, aliadas à paisagem mirífica do plano
que foram obrigados a abandonar, viviam no cerne das suas recordações
mais queridas. As exortações confortadoras do Cristo, nas vésperas de
sua dolorosa imersão nos fluidos pesados do planeta terrestre, cantavamlhes no íntimo os mais formosos hosanas de alegria e de esperança. Era
por isso que aquelas civilizações antigas possuíam mais fé, colocando a
intuição divina acima da razão puramente humana. A crença, como íntima
e sagrada aquisição de suas almas,
era a força motora de todas as realizações, e todos os degredados, com os
mais santos entusiasmos do coração, falaram dEle e da sua infinita
misericórdia Suas vozes enchem todo o âmbito das civilizações que
passaram no pentagrama dos séculos sem-fim e, apresentado com mil
nomes, segundo as mais variadas épocas, o Cordeiro de Deus foi
guardado pela compreensão e pela memória do mundo, com todas as suas
expressões divinas ou, aliás, como a própria face de Deus, segundo as
modalidades dos mistérios religiosos.
A GÊNESE DAS CRENÇAS RELIGIOSAS
A gênese de todas as religiões da Humanidade tem suas origens no
seu coração augusto e misericordioso. Não queremos, com as nossas
exposições, divinizar, dogmaticamente, a figura luminosa do Cristo, e sim
esclarecer a sua gloriosa ascendência na direção do orbe terrestre,
considerada a circunstância de que cada mundo, como cada família, tem
seu chefe supremo, ante a justiça e a sabedoria do Criador.
Fôra erro crasso julgar como bárbaros e pagãos os povos terrestres
que ainda não conhecem diretamente as lições sublimes do seu Evangelho
de redenção, porquanto a sua desvelada assistência acompanhou, como
acompanha a todo tempo, a evolução das criaturas em todas as latitudes
do orbe. A história da China, da Pérsia, do Egito, da Índia, dos árabes, dos
israelitas, dos celtas, dos gregos e dos romanos está alumiada pela luz
dos seus poderosos emissários. E muitos deles tão bem se
houveram, no cumprimento dos seus grandes e abençoados deveres, que
foram havidos como sendo Ele próprio, em reencarnações sucessivas e
periódicas do seu divinizado amor. No Manava-Darma, encontramos a lição
do Cristo; na China encontramos Fo-Hi, Lao-Tsé, Confúcio; nas crenças do
Tibete, está a personalidade de Buda e no Pentateuco encontramos
Moisés; no Alcorão vemos Maomet. Cada raça recebeu os seus
instrutores, como se fosse Ele mesmo, chegando das resplandecências de
sua glória divina.
Todas elas, conhecendo intuitivamente a palavra das profecias,
arquivaram a história dos seus enviados, nos moldes de sua vinda futura,
em virtude das lembranças latentes que guardavam no coração, acerca da
sua palavra nos espaços, tocada de esclarecimento e de amor.
A UNIDADE SUBSTANCIAL DAS RELIGIÕES
A verdade é que todos os livros e tradições religiosas da antigüidade
guardam, entre si, a mais estreita unidade substancial. As revelações
evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento. Todas se referem ao
Deus impersonificável, que é a essência da vida de todo o Universo, e no
tradicionalismo de todas palpita a visão sublimada do Cristo, esperado em
todos os pontos do globo.
Os vários povos do mundo traziam de longe as suas concepções e
as suas esperanças, sem falarmos das grandes coletividades que
floresciam na América do Sul, então quase ligada à
China pelas extensões da Lemúria, e da América do Norte, que se ligava à
Atlântida. Não é, porém, nosso propósito estudar aqui outras questões que
se não refiram à superioridade do Cristo e à ascendência do seu
Evangelho, nestes apontamentos despretensiosos. Citando, porém, todos
os povos antigos do planeta, somos compelidos a recordar, igualmente, as
grandes civilizações pré-históricas, que desabrocharam e desapareceram
no continente americano, de cujos cataclismos e arrasamentos ficaram
ainda as expressões interessantes dos incas e dos astecas, que, como
todos os outros agrupamentos do mundo, receberam a palavra indireta do
Senhor, na sua marcha coletiva através de augustos caminhos.
AS REVELAÇÕES GRADATIVAS
Até à palavra simples e pura do Cristo, a Humanidade terrestre viveu
etapas gradativas de conhecimento e de possibilidades, na senda das
revelações espirituais.
Os milênios, com as suas experiências consecutivas e dolorosas,
prepararam os caminhos dAquele que vinha, não somente com a sua
palavra, mas, principalmente, com a sua exemplificação salvadora. Cada
emissário trouxe uma das modalidades da grande lição de que foi teatro a
região humilde da Galiléia.
É por esse motivo que numerosas coletividades asiáticas não
conhecem a lição direta do Mestre, mas sabem do conteúdo da sua
palavra, em virtude das próprias revelações do seu
ambiente, e, se a Boa Nova não se dilatou no curso dos tempos, pelas
estradas dos povos, e que os pretensos missionários do Cristo, nos
séculos posteriores aos seus ensinos, não souberam cultivar a flor da vida
e da verdade, do amor e da esperança, que os seus exemplos haviam
implantado no mundo: abafando-a nos templos de uma falsa
religiosidade, ou encarcerando-a no silêncio dos claustros, a planta
maravilhosa do Evangelho foi sacrificada no seu desenvolvimento e
contrariada nos seus mais lídimos objetivos.
PREPARAÇÃO DO CRISTIANISMO
As lições da Palestina foram, desse modo, precedidas de laboriosa e
longa preparação na intimidade dos milênios
Os sacerdotes de todas as grandes religiões do passado
supuseram, nos seus mestres e nos seus mais altos iniciados, a
personalidade do Senhor, mas temos de convir que Jesus foi
inconfundível.
À luz significativa da história, observamos muitas vezes, nos seus
auxiliares ou instrumentos humanos, as características das vulgaridades
terrestres. Alguns foram ditadores de consciências, enérgicos e ferozes no
sentido de manter e fomentar a fé; outros, traídos em suas forças e
desprezando os compromissos sagrados com o Salvador, longe de serem
instrumentos do Divino Mestre, abusaram da própria liberdade, dando
ouvidos às forças subversivas da Treva, prejudicando a harmonia geral.
O CRISTO INCONFUNDÍVEL
Mas Jesus assinala a sua passagem pela Terra com o selo constante
da mais augusta caridade e do mais abnegado amor. Suas parábolas e
advertências estão impregnadas do perfume das verdades eternas e
gloriosas. A manjedoura e o calvário são lições maravilhosas, cujas
claridades iluminam os caminhos milenários da humanidade inteira, e
sobretudo os seus exemplos e atos constituem um roteiro de todas as
grandiosas finalidades, no aperfeiçoamento da vida terrestre. Com esses
elementos, fez uma revolução espiritual que permanece no globo há dois
milênios. Respeitando as leis do mundo, aludindo à efígie de César,
ensinou as criaturas humanas a se elevarem para Deus, na dilatada
compreensão das mais santas verdades da vida. Remodelou todos os
conceitos da vida social, exemplificando a mais pura fraternidade.
Cumprindo a Lei Antiga, encheu-lhe o organismo de tolerância, de piedade
e de amor, com as suas lições na praça pública, em frente das criaturas
desregradas e infelizes, e somente Ele ensinou o "Amai-vos uns aos
outros", vivendo a situação de quem sabia cumpri-lo.
Os Espíritos incapacitados de o compreender podem alegar que as
suas fórmulas verbais eram antigas e conhecidas; mas ninguém poderá
contestar que a sua exemplificação foi única, até agora, na face da Terra.
A maioria dos missionários religiosos da antigüidade se compunha
de príncipes, de sábios ou de grandes iniciados, que saíam da intimidade
confortável dos palácios e dos templos;
mas o Senhor da semeadura e da seara era a personificação de toda a
sabedoria, de todo o amor, e o seu único palácio era a tenda humilde de
um carpinteiro, onde fazia questão de ensinar à posteridade que a
verdadeira aristocracia deve ser a do trabalho, lançando a fórmula
sagrada, definida pelo pensamento moderno, como o coletivismo das
mãos, aliado ao individualismo dos corações síntese social para a qual
caminham as coletividades dos tempos que passam - e que, desprezando
todas as convenções e honrarias terrestres, preferiu não possuir pedra
onde repousasse o pensamento dolorido, a fim de que aprendessem os
seus irmãos a lição inesquecível do "Caminho, da Verdade e da Vida".
A Gr é c i a e a mi s s ã o d e S ó c r a t e s
NAS VÉSPERAS DA MAIORIDADE
TERRESTRE
Examinando a maioridade espiritual das criaturas humanas, envioulhes o Cristo, antes de sua vinda ao mundo, numerosa coorte de Espíritos
sábios e benevolentes, aptos a consolidar, de modo definitivo, essa
maturação do pensamento terrestre.
As cidades populosas do globo enchem-se, então, de homens cultos
e generosos, de filósofos e de artistas, que renovam, para melhor, todas as
tendências da Humanidade.
Grandes mestres do cérebro e do coração formam escolas
numerosas na Grécia, que assumia
a direção intelectual do orbe inteiro. A maioria desses pensadores, que
eram os enviados do Cristo às coletividades terrestres, trazem, do círculo
retraído e isolado dos templos, os ensinamentos dos grandes iniciados
para as praças públicas, pregando a verdade às multidões.
Assim como a organização do homem físico exigira as mais amplas
experiências da natureza, antes de se fixarem os seus caracteres
biológicos definitivos, a lição de Jesus, que representa o roteiro seguro
para a edificação do homem espiritual, deveria ser precedida pelas
experiências mais vastas no campo social.
É por essa razão que observamos, nos cinco séculos anteriores à
vinda do Cordeiro, uma aglomeração de inúmeras escolas políticas,
religiosas e filosóficas dos mais diversos matizes, em todos os ambientes
do mundo.
ATENAS E ESPARTA
Muitas teorias científicas, que provocam o sensacionalismo dos
vossos dias como inovações ultramodernas, foram conhecidas da Grécia,
em cujos mestres têm os seus legítimos fundamentos.
Em matéria de doutrinas sociais, grandes ensaios foram realizados,
divulgando-se a mais farta colheita de ensinamentos; e quando meditamos
no conflito moderno entre os Estados totalitários, fascistas ou comunistas
e as repúblicas democráticas, devemos volver os olhos ao passado,
revendo Atenas e Esparta como dois símbolos políticos que nos fazem
pensar na plena atualidade da Grécia antiga.
Os espartanos, sob o regime atribuído a Licurgo, nome que constitui
apenas uma representação simbólica dos generais da época, vivendo a
existência absoluta do Estado, não expressaram a mesma fisionomia da
Alemanha e da Rússia atuais? A legislação de Esparta proibia o comércio,
condenava a cultura; cerceando o gosto pessoal em face das bagatelas
encantadoras da vida e do sentimento, decretou medidas de insulamento,
maltratando os estrangeiros; instituiu a uniformidade dos vestuários,
incumbiu-se da educação das crianças através dos órgãos do Estado, mas
não cultivava a parte intelectual, abalando todo o edifício sagrado da
família e criando, muitas vezes, o regime do roubo e da delação, em
detrimento das mais nobres finalidades da vida.
Por essa razão, Esparta passou à história como um simples povo de
soldados espalhando a destruição e os flagelos da guerra, sem nenhuma
significação construtiva para a Humanidade.
Atenas, ao contrário, é o berço da verdadeira democracia. Povo que
amou profunda-mente a liberdade, sua dedicação à cultura e às artes
iniciou as outras nações no culto da vida, da criação e da beleza. Seus
legisladores, que, como Sólon, eram filósofos e poetas, reformaram todos
os sistemas sociais conhecidos até então, protegendo as classes pobres e
desvalidas, estabelecendo uma linha harmônica entre todos os
departamentos da sociedade, acolhendo os estrangeiros, protegendo o
trabalho, fomentando o comércio, as indústrias, a agricultura.
Lá começou o verdadeiro regime de consulta à vontade do povo, que
decidia, em assembléias numerosas, todos os problemas da cidade
venerável. E é fácil reconhecer aí o início das democracias modernas, que
agora se organizam, nas transições do século XX, para a repressão de
todas as doutrinas nefastas da força e da violência.
EXPERIÊNCIAS NECESSÁRIAS
Semelhantes experiências, no campo sociológico, foram
incentivadas e acompanhadas de perto pelos prepostos de Jesus,
respeitadas as grandes leis da liberdade individual e coletiva.
O mundo precisava conhecer a boa e a má semente, nas grandes
transformações da sua existência. A exemplificação do Cristo necessitava
de elevada compreensão no seio da cultura e da experiência de todos os
séculos transcorridos e, sem embargo das lutas renovadoras que a
antecederam no orbe, há dois milênios que o Evangelho do Mestre espera
a floração do perfeito entendimento dos homens.
A GRÉCIA
Ao influxo do coração misericordioso do Cristo, toda a Grécia se
povoa de artistas e pensadores eminentes, no quadro das filosofias e das
ciências. É lá que vamos encontrar as escolas Itálica e Eleática, à frente do
fervoroso idealismo de Pitágoras e Xenófanes, sem esquecermos,
igualmente, as escolas Jônica e Ato
mística com Tales e Demócrito, nas expressões do mais avançado
materialismo.
O século de Péricles, chegando a um apogeu de beleza e de cultura
com os elevados princípios recebidos da civilização egípcia, espalha os
mais soberbos clarões espirituais nos horizontes da Terra. Poucas fases
da evolução européia se aproximaram desse século maravilhoso.
O Salvador contempla, das Alturas, essa época de elevadas
conquistas morais, cheio de amor e de esperança. O planeta terrestre
aproximava-se da sua maioridade espiritual quando, então, poderia Ele
nutrir o coração humano com a sementeira bendita da sua palavra. Envia,
então, às sociedades do globo o esforço de auxiliares valorosos, nas
figuras de Ésquilo, Eurípedes, Heródoto e Tucídides, e por fim a
extraordinária personalidade de Sócrates, no intuito de realizar o
coroamento do esforço decidido de tantos mensageiros.
SÓCRATES
É por isso que, de todas as grandes figuras daqueles tempos
longínquos, somos compelidos a destacar a grandiosa figura de Sócrates,
na Atenas antiga.
Superior a Anaxágoras, seu mestre, como também imperfeitamente
interpretado pelos seus três discípulos mais famosos, o grande filósofo
está aureolado pelas mais divinas claridades espirituais, no curso de todos
os séculos planetários. Sua existência, em algumas circunstâncias,
aproxima-se da exemplificação
do próprio Cristo. Sua palavra confunde todos os espíritos mesquinhos da
época e faz desabrochar florações novas de sentimento e cultura na alma
sedenta da mocidade. Nas praças públicas, ensina à infância e à juventude
o formoso ideal da fraternidade e da prática do bem, lançando as sementes
generosas da solidariedade dos pósteros.
Mas Atenas, como cérebro do mundo de então, apesar do seu vasto
progresso, não consegue suportar a lição avançada do grande mensageiro
de Jesus.
Sócrates é acusado de perverter os jovens atenienses, instilandolhes o veneno da liberdade nos corações.
Preso e humilhado, seu espírito generoso não se acovarda diante
das provas rudes que lhe extravasam do cálice de amarguras. Consciente
da missão que trazia, recusa fugir do próprio cárcere, cujas portas se lhe
abrem às ocultas pela generosidade de alguns juízes.
Os enviados do plano invisível cercam-lhe o coração magnânimo e
esclarecido, nas horas mais ásperas e agudas da provação; e quando a
esposa, Xantipa, assoma às grades da prisão para comunicar-lhe a
nefanda condenação à morte pela cicuta, ei-la exclamando no auge da
angústia e desesperação:
- "Sócrates, Sócrates, os juizes te condenaram à morte..."
- "Que tem isso? - responde resignadamente o filósofo - eles
também estão condenados pela Natureza."
- "Mas essa condenação é injusta..." - soluça ainda a desolada
esposa.
E ele a esclarece com um olhar de paciência e de carinho:
- "E quererias que ela fosse justa?"
Senhor do seu valoroso e resignado heroísmo, Sócrates abandona a
Terra, alçando-se de novo aos páramos constelados, onde o aguardava a
bênção de Jesus.
OS DISCÍPULOS
O grande filosofo que ensinara à Grécia as mais belas virtudes,
como precursor dos princípios cristãos, deixou vários discípulos, dos
quais se destacaram Antístenes, Xenofonte e Platão. Falaremos, apenas,
deste último, para esclarecer que nenhum deles soube assimilar
perfeitamente a estrutura moral do mestre inesquecível. A História louva os
discursos de Platão, mas nem sempre compreendeu que ele misturou a
filosofia pura do mestre com a ganga das paixões terrestres, enveredando
algumas vezes por complicados caminhos políticos. Não soube, como
também muitos dos seus companheiros, conservar-se ao nível de alta
superioridade espiritual, chegando mesmo a justificar o direito tirânico dos
senhores sobre os escravos, sem uma visão ampla da fraternidade
humana e da família universal.
Contudo, não deixou de cultivar alguns dos princípios cristãos
legados pelo grande mentor, antecipando-se ao apostolado do Evangelho,
antes de entregar a sua tarefa doutrinária a Aristóteles, que ia também
trabalhar pelo advento do Cristianismo.
PROVAÇÃO COLETIVA DA GRÉCIA
A condenação de Sócrates foi uma dessas causas transcendentes
de dolorosas e amargas provações coletivas, para todos os espíritos que
participaram dela, na medida justa das responsabilidades pessoais entre
si.
E é em razão disso que, mais tarde, vemos o povo nobre e culto de
Atenas fornecendo escravos valorosos e sábios aos espíritos agressivos e
enérgicos de Roma. Eles iam nas galeras suntuosas, humilhados e
oprimidos, sem embargo das suas elevadas noções da vida, do amor, da
liberdade e da justiça.
É verdade que iam instaurar um novo período de progresso
espiritual para as coletividades romanas, com os seus luminosos
ensinamentos, mas o processo evolutivo poderia ladear outros caminhos,
longe do morticínio e da escravidão. Todavia, sobre a fronte de muitos
gregos ilustres, pairava o sanguinolento labéu daquela injusta
condenação, labéu ignominioso que a Grécia deveria lavar com as
lágrimas dolorosas da compunção e do cativeiro.
Roma
O POVO ETRUSCO
Reconhecendo as dedicações ao trabalho, por parte de todos os
Espíritos que se haviam localizado na Itália primitiva, então dividida em
duas partes importantes, que eram a Gália Cisalpina e a Magna Grécia, ao
norte e ao sul da península, os prepostos e auxiliares de Jesus projetam a
fundação de Roma, que se ergueu rapidamente, coroada de lendas
numerosas, para desempenhar tão grande papel na evolução do Mundo.
A esse tempo, o Vale do Pó era habitado pelos etruscos, que se viam
humilhados pelas
constantes invasões dos gauleses. De todos os elementos que formaram
os ascendentes da Itália moderna, eram eles dos mais esforçados,
operosos e inteligentes Nas regiões da Toscana, possuíam largas
indústrias de metais, marinha notável, destacado progresso no amanho da
terra e, sobretudo, sentimentos evolvidos que os faziam diferentes das
coletividades mais próximas. Acreditavam na sobrevivência e ofereciam
sacrifícios às almas dos mortos, venerando os deuses cujas disposições,
em cada dia, presumiam conhecer através dos fenômenos comuns da
Natureza. Atormentados e desgostosos em face das lutas reiteradas com
os gauleses, os etruscos decidiram tentar vida nova e, guiados
indiretamente pelos mensageiros do Invisível, grande parte resolveu fixarse na Roma do porvir, que, então, nada mais era que um agrupamento de
cabanas humildes e desprotegidas.
PRIMÓRDIOS DE ROMA
Defendida naturalmente pelo adensamento constante de população,
a cidade mergulhou as suas origens numa corrente profunda de histórias
interessantes e maravilhosas, onde as figuras de Enéias, de Réia Sílvia, de
Rômulo e Remo assumiram papel saliente e singularíssimo.
A verdade, porém, é que os etruscos, em grande maioria, edificaram
as primeiras organizações da cidade, fundando escolas de trabalho,
transportando para aí as experiências mais valiosas dos outros povos,
criando uma nova
terra com o seu esforço enérgico e decidido. Lá encontraram eles as tribos
latinas Ramnenses, Titienses e Lúceres, congregadas para a edificação
comum, das quais assumiram a direção por largos anos, construindo os
alicerces das realizações futuras.
Quando Rômulo chegou, seus olhos já contemplaram uma cidade
próspera e trabalhadora, onde fez valer a sua enérgica inteligência, mas
não faltou à posteridade o gosto de tecer-lhe uma coroa lendária e
fantasiosa, chegando-se a afirmar que a sua figura fora arrebatada no
carro dos deuses, com destino ao Céu.
INFLUÊNCIAS DECISIVAS
Desnecessária será a autópsia da História nos seus pontos mais
divulgados e conhecidos, quando o nosso único propósito é esclarecer o
entendimento do leitor, quanto à direção do planeta, que se conserva, de
fato, no mundo espiritual, de onde o Cristo vela incessantemente pelo orbe
e pelos seus destinos. Todavia, para fundamentar nossa asserção acerca
das influências etruscas nos primórdios de Roma, somos levados a
recordar a figura de Tarquínio Prisco, filho da Etrúria, que trouxe à cidade
grandes reformas e inúmeras inovações em todos os departamentos da
sua consolidação e do seu progresso, lembrando, entre as suas muitas
renovações, a construção da Cloaca Máxima e do Capitólio. Seu sucessor,
Sérvio Túlio, era igualmente da sua família. Este, dividiu todo o povo da
cidade em classes e centúrias, segundo as possibilidades financeiras de
cada um,
desgostando os patrícios, a esse tempo já organizados, em virtude de essa
reforma apresentar-se dentro de características liberais, não obstante as
suas finalidades militares.
Onde, porém, mais se evidenciam as influências etruscas, nas
organizações romanas, é justamente na alma popular, devotada aos
gênios, aos deuses e às superstições de toda espécie, que seriam
multiplicadas em seus contactos com a Grécia. Cada família, como cada
lar, possuía o seu gênio invisível e amigo, e, na sociedade, alastravam-se
as comunidades religiosas, culminando no Colégio dos Pontífices, cuja
fundação remonta ao passado longínquo da cidade. Esse Colégio foi
depois substituído pelo Pontífice Máximo, chefe supremo das correntes
religiosas, do qual os bispos romanos iam extrair, mais tarde, o Vaticano e
o Papado dos tempos modernos.
Os romanos, ao contrário dos atenienses, não procuravam muitas
indagações transcendentes em matéria religiosa ou filosófica, atendendo
somente aos problemas do culto externo, sem muitas argumentações com
a lógica, e foi por isso que, com a evolução da cidade, o Panteão, seu
templo mais aristocrático, chegou a possuir mais de trinta mil deuses.
OS PATRÍCIOS E OS PLEBEUS
Depois dos últimos Tarquínios, que procuraram intensificar os
poderes militares da realeza, proclama-se a República, que fica governada
por dois magistrados patrícios, assistidos pelo Senado. Grandes medidas
são executadas
para consolidar a supremacia romana, mas as classes pobres,
oprimidas pelas mais ricas, que gozavam de todos os direitos, revoltaramse em face da penosa situação em que as colocavam as possibilidades da
ditadura preconizada pelos senadores, em casos especiais com poderes
soberanos e amplos em todas as questões da vida e morte de cada um.
Inspirados pelas forças espirituais que os assistiam, os plebeus em
massa abandonaram a cidade, retirando-se para o Monte Sagrado, mas os
patrícios, examinando a gravidade daquela atitude extrema, lhes enviam
Menênio Agripa, cuja palavra se desincumbe com felicidade da diligência
que lhe fora cometida, contando aos rebeldes o apólogo dos membros e
do estômago, que constituem, no mecanismo de sua harmonia, o perfeito
organismo de um corpo. A plebe concorda em regressar à cidade, embora
impondo condições quase que irrestritamente aceitas. Os tribunos da
plebe inauguram, então, um período de belas conquistas dos direitos
humanos, culminando na Lei Canuleia, que permitia o casamento entre
patrícios e plebeus e com a Lei Ogúlnia, que conferia a estes últimos as
próprias funções sacerdotais.
A FAMÍLIA ROMANA
Muito poderíamos comentar, à margem da História, mas outros são
os nossos fins, considerando-nos no dever de salientar aqui as sagradas
virtudes romanas, na instituição do colégio da família, em muitas
circunstâncias superior ao da própria Grécia cheia de sabedoria e beleza.
A família romana, em suas tradições gloriosas, está constituída no
mais sublime respeito às virtudes heróicas da mulher e na perfeita
compreensão dos deveres do homem, ante os seus sucessores e os seus
antepassados.
Lembrando-nos de Roma no seu áureo período de trabalho, enchese-nos ó olhar de lágrimas amargas... Que gênio maldito imiscuiu-se nessa
organização sublimada em seus mais íntimos fundamentos, devorando-lhe
as esperanças mais nobres, corrompendo-lhe os sentimentos, relaxandolhe as energias? Que força devastadora derrubou todas as suas estátuas
gloriosas de virtude? Debalde, a mão misericordiosa de Jesus desceu
sobre a sua fronte, levantando-a de quedas tenebrosas, antes dos tristes
espetáculos do seu arrasamento. Os abusos de poder e de liberdade dos
seus habitantes fizeram do ninho do amor e do trabalho um amontoado de
rumarias, afundando-o num mar de lodo sanguinolento.
AS GUERRAS E A MAIORIDADE TERRESTRE
Em breve, porém, a família romana, cheia das tradições de generosa
beleza, foi dilacerada pelos gênios militares e pelos espíritos guerreiros.
O progresso incessante da cidade formava a tendência geral ao
expansionismo em todos os domínios.
Entretanto, os pródromos do Direito Romano e a organização da
família assinalavam
o período da maioridade terrestre. O homem com semelhantes conquistas,
estava a desferir o vôo para as mais altas esferas espirituais.
As legiões magnânimas do Cristo aprestam-se para as últimas
preparações de seus gloriosos caminhos na face do mundo. O Evangelho
deveria chegar como a mensagem eterna do amor, da luz e da verdade
para todos os seres.
Todavia, a liberdade pessoal e coletiva é respeitada pelo plano
invisível e Roma não se mostra digna das numerosas dádivas recebidas.
Em vez de estender os seus laços pela educação e pela concórdia, deixa
prender-se por uma legião de espíritos agressivos e ambiciosos, alargando
a sua influência pelo mundo com as balistas e catapultas dos seus
guerreiros. Depois das conquistas da Península, empreende a conquista
do mundo, com as guerras púnicas, terminando por submeter todo o
Oriente, onde também se encontrava a Grécia esgotada e vencida.
Os enviados do Cristo harmonizam esses terríveis movimentos no
instituto das provações necessárias aos indivíduos e aos seus
agrupamentos; todavia, a realidade é que Roma assumia, igualmente, as
mais pesadas responsabilidades e os mais penosos débitos, diante da
Justiça Divina. Suas águias vitoriosas cruzam, então, todos os mares; o
Mediterrâneo é propriedade sua e o Império Romano é o Império do
homem, ouvindo-se a voz diretora de um só homem para quase todas as
regiões povoadas da Terra.
NAS VÉSPERAS DO SENHOR
As forças do invisível, porém, não descansaram. Muitas lágrimas
foram vertidas, no Alto, em vista de tão nefastos acontecimentos.
O Cristo reúne as assembléias de seus emissários. A Terra não
podia perder a sua posição espiritual, depois das conquistas da sabedoria
ateniense e da família romana.
É então que se movimentam as entidades angélicas do sistema, nas
proximidades da Terra, adotando providências de vasta e generosa
importância. A lição do Salvador deveria, agora, resplandecer para os
homens, controlando-lhes a liberdade com a exemplificação perfeita do
amor. Todas as providências são levadas a efeito. Escolhem-se os
instrutores, os precursores imediatos, os auxiliares divinos. Uma atividade
única registra-se, então, nas esferas mais próximas do planeta, e, quando
reinava Augusto, na sede do governo do mundo, viu-se uma noite cheia de
luzes e de estrelas maravilhosas. Harmonias divinas cantavam um hino de
sublimadas esperanças no coração dos homens e da Natureza. A
manjedoura é o teatro de todas as glorificações da luz e da humildade, e,
enquanto alvorecia uma nova era para o globo terrestre, nunca mais se
esqueceria o Natal, a "noite silenciosa, noite santa".